A Companhia de Teatro do Barreiro ArteViva estreia, na próxima sexta-feira, dia 15 de janeiro, a peça “Hotel da Bela Vista”, no Teatro Municipal do Barreiro. Esta comédia de Ödön von Horváth, com encenação de Jorge Cardoso e Carina Silva, vai estar em cena às sextas e sábados, pelas 21h30m.
“Hotel da Bela Vista” (que esteve para se chamar “Hotel Europa”…) foi escrita em 1926. A Alemanha procurava então sobreviver ao colapso económico do pós-guerra. A inflação e o desemprego tinham atingido níveis insuportáveis. Haviam falhado revoltas da esquerda. Havia falhado o putsch de Hitler, em Munique. Só o exército garantia a sobrevivência da República de Weimar. A pouco e pouco, foi-se percebendo como haviam sido proféticas as palavras de Jean Jaurès, em 1905: “ De uma guerra europeia pode jorrar uma revolução e as classes governantes fariam bem em pensar nisso. Mas pode também resultar, por extenso período, uma crise de contra-revolução, de reacção furiosa, de nacionalismo exasperado, de ditaduras asfixiantes, de militarismo monstruoso, enfim, uma longa cadeia de violência retrógrada”.
Horváth não fala dos grandes acontecimentos, mas do modo como eles influenciam o pensamento e a acção das pessoas. No modo de agir e nos diálogos das personagens deixa o retrato de uma época. E fá-lo, de preferência, num tom irreverente. Horváth (a propósito de outra peça, “Fé, Esperança e Caridade”): “Tal como em todas as minhas peças, também tento, desta vez, ser o mais possível irreverente, contra a estupidez e contra a mentira, pois esta irreverência bem podia constituir a função mais nobre do escritor que, às vezes, só por isso se imagina a escrever para que as pessoas se conheçam a si próprias”.
Há muito que este Hotel estava nos nossos planos. E a cada ano que passava, mais actual nos ia parecendo. Saber se Horváth previu a ascensão do nazismo, a segunda grande guerra ou até o fim da civilização europeia; saber se este Hotel é uma alegoria à Europa, de então e de hoje; saber se estes diálogos ainda nos aproveitam ou não – são assuntos que ficam à consideração dos espectadores.
Afinal, Horváth não impõe, propõe: e é isso que nos prende ao texto. Comédia, disse ele, enquanto subvertia a própria comédia e as suas regras convencionais. E sem final feliz. Jorge Cardoso
Recorde-se que a Companhia tem também em cena “A Odisseia de Ulisses.. Manuel”, um espetáculo infanto-juvenil, adaptado da obra Ulisses de Maria Alberta Menéres, aos sábados às 16h00.
CMB/Zoomonline